Três Picos (Pico Menor e Médio, Pico Maior e Capacete)
Três Picos em Nova Friburgo - RJ era um desejo antigo, durante muitos anos foi a maior parede de escalada do Brasil, com 700m de via a famosa Face Leste sempre foi o destino de escaladores apaixonados por escalada de aventura. Lá entendemos o que é a escalada de aventura, proteções fixas com distancias de 10 a 30 metros de intervalo entre elas. Você tem que estar bem não só tecnicamente, mas também psicologicamente, pois a altura da parede junto com a pouca proteções, dão um tom mais assustador ao local.
No feriado de Corpus Christi (11/06/09) decidi fazer a empreitada, eu e Marcelo , resolvemos percorrer mais de 1000Km de carro para escalar esse famoso pico. Infelizmente o tempo acabou prejudicando nossos planos, pois o planejado era ficar 4 dias escalando, mas o mal tempo adiou nossos planos. Já na viagem que resolvemos fazer a noite (Curitiba a Friburgo) a chuva nos castigou quase o percurso inteiro (12 horas). Quando passamos pelo Rio de Janeiro nem tínhamos mas esperança de pegar tempo bom.
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Foto Tradicional da Serra dos
Orgãos em
TeresopolisConforme fomos aproximando da região dos Três Picos o tempo ia ficando firme. Isso nos animou, mas sabíamos que teríamos que aproveitar o pouco tempo para escalar, pois logo logo a chuva e o mal tempo chegaria. Nem bem chegamos no abrigo do Paulo Mascarin, montamos a barraca e sem dormir (dirigimos a noite inteira) fomos para primeira via Sergio Jacob (150m-D2 5º V E3) no Capacete, para aclimatarmos com o local.
Abrigo República Três Picos - Meu amigo Paulo Mascarin
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Pico Maior e Capacete (direita)
A via tinha sido regrampeda recentemente para ficar mas segura, mas mesmo assim suas costuras eram bem distantes. Fui guiando e logo atrás Marcelo passa por mim e sai guiando a proxima cordada. Nesse dia não estávamos bem, pois sem dormir ficamos mais cansados e desatenciosos e nem escalamos a ultima cordada.
Segunda Cordada da Sergio Jacob
Acabamos ficando inseguros para entrar no dia seguinte na Face Leste. Os motivos eram muitos: não conhecíamos a via, o rapel pelo via Sylvio Mendes é um pouco difícil principalmente se voltássemos a noite, o risco de pegarmos chuva era muito evidente, ninguém aconselha a rapelar a própria via Leste (a linha de rapel não segue a linha da escalada) e por nosso desempenho na Sergio Jacob deixou-nos um pouco inseguros.
Mas nessa noite conhecemos um pessoal do Rio de Janeiro e nos convidaram a acompanhar a mesma escalada que eles iriam fazer no dia seguinte.
Bom achamos mais sensato ir com eles (Roberto Groba, Fred Zavan e Andreza), levantamos cedo e fomos ao Capacete na via El Kabong (450m - D3 5 VI E2) . Já antes de entrarmos na parede uma fino chuvisco começou, mas não chegou a ser preocupante e começamos a escalada.
Trilha do Vale dos Deuses
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Segunda Cordada
A via estendia em 11 cordadas sendo as primeiras 3 cordadas em aderência. Após isso entrava no crux (lance mais dificil) da via (6 grau) bem interessante e a próxima cordada outro lance de 6 grau em lance delicado de pequenos cristais.
Marcelo nas Aderências
Marcelo entrando no crux
Estava tudo indo bem até que na sétima cordada começou a chuviscar de novo. Mas agora a preocupação era maior pois ainda faltava muito para acabar e ninguém queria ter que voltar pela mesma via. Apresamos a escalada, mas mesmo assim na penúltima cordada caiu para valer a chuva. Essa cordada era um lance fácil de 4grau em uma fenda de mão com bastante local para proteção móvel. Mas a ultima cordada foi tensa, pois a agua nesse momento escorria na parede trazendo sujeira e barro para baixo, o lance era um terceiro grau, mas o detalhe era que ele percorria em aderência uns 40metros sem proteção alguma. Realmente subi pensando que eu a qualquer momento iria cair, pois a parede era um sabão.
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Roberto
Groba , Fred e
Andreza na Frente e Marcelo logo
atras
Lance da sexta cordada
Logo passado o susto, fomos ao rapel. Nesse momento a temperatura havia caído drasticamente (5 graus) e o rapel corria pela via Sergio Jacob, seriam 3 lances de rapel de 50m com corda dupla. A linha da via era uma saliência natural aonde corria a agua da chuva, e nessa altura já tinha virado uma cachoeira. Estávamos com anoraque mas as pernas, mãos e cabeça estavão totalmente molhadas e expostas, mal sentia minhas mãos. Foi cansativo de mais, pois a corda duplica seu peso e o atrito dela molhada aumentava a resistência em puxa-la para baixo. Mas deu tudo certo e já a noite estávamos na lareira tomando um vinho e jogando conversa fora.
Um merecido vinho na lareira
Como prevíamos a chuva era inevitável e tomamos a decisão certa, pois se tivéssemos pego essa chuva na Leste com certeza o sofrimento seria muito maior. No dia seguinte voltamos para Curitiba, sem fazer tudo que planejamos, mas felizes por termos a oportunidade de conhecermos essa região linda e suas paredes fabulosas.