terça-feira, dezembro 29

Salinas - El Kabong

Três Picos (Pico Menor e Médio, Pico Maior e Capacete)


Três Picos em Nova Friburgo - RJ era um desejo antigo, durante muitos anos foi a maior parede de escalada do Brasil, com 700m de via a famosa Face Leste sempre foi o destino de escaladores apaixonados por escalada de aventura. Lá entendemos o que é a escalada de aventura, proteções fixas com distancias de 10 a 30 metros de intervalo entre elas. Você tem que estar bem não só tecnicamente, mas também psicologicamente, pois a altura da parede junto com a pouca proteções, dão um tom mais assustador ao local.


No feriado de Corpus Christi (11/06/09) decidi fazer a empreitada, eu e Marcelo , resolvemos percorrer mais de 1000Km de carro para escalar esse famoso pico. Infelizmente o tempo acabou prejudicando nossos planos, pois o planejado era ficar 4 dias escalando, mas o mal tempo adiou nossos planos. Já na viagem que resolvemos fazer a noite (Curitiba a Friburgo) a chuva nos castigou quase o percurso inteiro (12 horas). Quando passamos pelo Rio de Janeiro nem tínhamos mas esperança de pegar tempo bom.





Foto Tradicional da Serra dos Orgãos em Teresopolis



Conforme fomos aproximando da região dos Três Picos o tempo ia ficando firme. Isso nos animou, mas sabíamos que teríamos que aproveitar o pouco tempo para escalar, pois logo logo a chuva e o mal tempo chegaria. Nem bem chegamos no abrigo do Paulo Mascarin, montamos a barraca e sem dormir (dirigimos a noite inteira) fomos para primeira via Sergio Jacob (150m-D2 5º V E3) no Capacete, para aclimatarmos com o local.



Abrigo República Três Picos - Meu amigo Paulo Mascarin


Pico Maior e Capacete (direita)
A via tinha sido regrampeda recentemente para ficar mas segura, mas mesmo assim suas costuras eram bem distantes. Fui guiando e logo atrás Marcelo passa por mim e sai guiando a proxima cordada. Nesse dia não estávamos bem, pois sem dormir ficamos mais cansados e desatenciosos e nem escalamos a ultima cordada.

Segunda Cordada da Sergio Jacob


Acabamos ficando inseguros para entrar no dia seguinte na Face Leste. Os motivos eram muitos: não conhecíamos a via, o rapel pelo via Sylvio Mendes é um pouco difícil principalmente se voltássemos a noite, o risco de pegarmos chuva era muito evidente, ninguém aconselha a rapelar a própria via Leste (a linha de rapel não segue a linha da escalada) e por nosso desempenho na Sergio Jacob deixou-nos um pouco inseguros.
Mas nessa noite conhecemos um pessoal do Rio de Janeiro e nos convidaram a acompanhar a mesma escalada que eles iriam fazer no dia seguinte.



Bom achamos mais sensato ir com eles (Roberto Groba, Fred Zavan e Andreza), levantamos cedo e fomos ao Capacete na via El Kabong (450m - D3 5 VI E2) . Já antes de entrarmos na parede uma fino chuvisco começou, mas não chegou a ser preocupante e começamos a escalada.


Trilha do Vale dos Deuses

Segunda Cordada
A via estendia em 11 cordadas sendo as primeiras 3 cordadas em aderência. Após isso entrava no crux (lance mais dificil) da via (6 grau) bem interessante e a próxima cordada outro lance de 6 grau em lance delicado de pequenos cristais.
Marcelo nas Aderências

Marcelo entrando no crux

Estava tudo indo bem até que na sétima cordada começou a chuviscar de novo. Mas agora a preocupação era maior pois ainda faltava muito para acabar e ninguém queria ter que voltar pela mesma via. Apresamos a escalada, mas mesmo assim na penúltima cordada caiu para valer a chuva. Essa cordada era um lance fácil de 4grau em uma fenda de mão com bastante local para proteção móvel. Mas a ultima cordada foi tensa, pois a agua nesse momento escorria na parede trazendo sujeira e barro para baixo, o lance era um terceiro grau, mas o detalhe era que ele percorria em aderência uns 40metros sem proteção alguma. Realmente subi pensando que eu a qualquer momento iria cair, pois a parede era um sabão.

Roberto Groba , Fred e Andreza na Frente e Marcelo logo atras

Lance da sexta cordada

Logo passado o susto, fomos ao rapel. Nesse momento a temperatura havia caído drasticamente (5 graus) e o rapel corria pela via Sergio Jacob, seriam 3 lances de rapel de 50m com corda dupla. A linha da via era uma saliência natural aonde corria a agua da chuva, e nessa altura já tinha virado uma cachoeira. Estávamos com anoraque mas as pernas, mãos e cabeça estavão totalmente molhadas e expostas, mal sentia minhas mãos. Foi cansativo de mais, pois a corda duplica seu peso e o atrito dela molhada aumentava a resistência em puxa-la para baixo. Mas deu tudo certo e já a noite estávamos na lareira tomando um vinho e jogando conversa fora.

Um merecido vinho na lareira

Como prevíamos a chuva era inevitável e tomamos a decisão certa, pois se tivéssemos pego essa chuva na Leste com certeza o sofrimento seria muito maior. No dia seguinte voltamos para Curitiba, sem fazer tudo que planejamos, mas felizes por termos a oportunidade de conhecermos essa região linda e suas paredes fabulosas.