quinta-feira, janeiro 5

Piramide Blanca

 Maciço do Condoriri
(esquerda p/ direita: Tarija 5240, Piramide Blanca 5230, Ilusionita 5150, Ilusión 5330 )


Continuando minha escalada, após ter escalado o Cerro Áustria com o Rodrigo, tive um dia de descanço e nesse dia  ele estava muito mal, com muitas dores e já era visto que ele não iria mais escalar. Mas ao final da tarde ele se animou e falou que talvez iria, com isso acabei não me planejando pra escalar com outras pessoas.
Durante a noite ele gemia e se mexia muito, ali percebi que eu não teria ele comigo. Comecei a pensar o que fazer, pois no dia apos aquele já tínhamos contratado mulas e transporte e eu não teria outra chance de escalar o Tarija. Naquela altura qualquer montanha que eu escalasse estaria ótimo, mas não escalar nenhum seria um fracasso total para mim.

Essa noite foi longa, pois não consegui dormir pensando o que fazer. Já escalei muitas vezes sozinho e  havia decido que se eu não encontrasse ninguém iria escalar o Cerro Tarija em solitário, pois sua trilha na geleira estava bem marcada. Sabia dos riscos, tenho muita experiência em trekking e escaladas em rocha, mas em gelo sou iniciante e mesmo uma travessia em geleira seria muito arriscado. Eram 6:00hs quando levantei e fui a volta do acampamento para ver de se tinha outros escaladores se preparando para escalar, mas não vi nada significante. Enquanto isso preparei um café e deixei minha mochila com meus equipos já preparado.


Geleira do Nevado Tarija, Piramide Blanca a direita


Estava tenso e falei com alguns escaladores e ninguém estava indo para onde eu queria. Até que vi duas pessoas passando pelo meio do acampamento com mochilas, nem pensei muito comprimentei-os e fui logo perguntando para onde iam. Era um homem e uma mulher e ele falou que estava indo para o Cerro Ilusión. Na hora não lembrei exatamente onde era e nem se era uma escalada muito técnica, apenas lembrei que era para o lado do Tarija e o Pequeno Alpamayo e isso era ótimo. Então sem muitos rodeios perguntei se poderia ir com eles e ele prontamente falou que não haveria problema. Ele falou para mim ir até a base da geleira que eles me esperariam lá.
Fui rapidamente pegar minhas coisas e colocar agua no meu camelbak, passei na barraca perguntar para o Rodrigo se estava tudo bem e avisar ele aonde eu estaria. Logo já estava na trilha para a base da geleira, caminhei quase correndo para alcança-los antes dela, mas o ritmo deles era muito bom e quando cheguei a base eles já estavam lá.

 Foto tirada pela manhã


Eu estava bem aclimatado e rapidamente me equipei me encordando a eles. Ali fiquei sabendo o nome dele Hugo Ayaviri  um guia boliviano e ela  Katherine uma australiana cliente dele. Hugo se comunicava bem comigo, mas ela só fala o inglês e não entendia nada de português ou espanhol. meu inglês é péssimo e falei poucas palavras com ela, mas fiquei sabendo que ela já havia escalado o Aconcágua 6962 (maior montanha das Américas),  o Elbrus 5642 (maior montanha da Europa), Ilhimani 6462 (maior montanha da Cordilheira Real e cartão postal de La Paz) e varias outras montanhas. Percebi que estava em ótimas mãos, mas será que conseguiria acompanhar o ritmo deles, pois os dois eram muito experientes.


Começando a subida da Geleira


Geleira 


Tínhamos que subir quase toda a geleira do Tarija 5240 para virar totalmente a direita e entrar numa canaleta que ia afunilando e ficando mais ingrime até chegar no col entre o Diente 5200 e a Piramide Blanca 5230. Piramide Blanca !!! Eu não estava indo para o Ilusión! Pois bem, achei que tinha escalado o Ilusión porque tanta a Katherine como o Hugo falaram que era o Ilusión, mas logo que cheguei em Curitiba olhando os mapas a localização não batia com o lugar que eu havia escalado. Achei que eu estava errado e por isso o nome era Ilusión, mas agora que estou postando a viagem pesquisei mais a fundo e realmente a montanha é a Piramide Blanca. Que erro!! Será que o Hugo não conhecia, mas tudo bem vamos continuar o relato.
Na subida que leva ao Tarija foi muito tranquilo a geleira não chega ter inclinação significativa e suas gretas a maioria cobertas ou pequenas fendas que não passavam de 20cm. Mas quando caímos totalmente para a direita a coisa complicou, a neve estava muito alta, quando pisávamos ela chegava na altura dos joelhos, aumentando assim o esforço para caminhar. Essa montanha é menos frequentada do que o Tarija e o Pequeno Alpamayo e não havia marcas de pegadas, assim deixando mais perigoso, pois ali havia gretas enormes.



 Rota já para a Piramide Blanca


 Enormes gretas nos rodeavam

 
Depois de 4 horas já vencido pelo cansaço


Chegamos a passar no lado de umas gretas abertas muito grandes, mas nosso objetivo era subir rápido e mal parávamos para olhar e tirar fotos. Os dois tinham um ritmo muito forte e ao longo da escalada fui perdendo esse ritmo e fiz com que eles parassem umas duas vezes.
Essa canaleta foi inclinando até o ponto que eu olhei para cima e estava o Hugo já de frente para o gelo cravando seu piolet e as pontas de seus grampons para escalar a parede. Na hora fiquei assustado com isso, pois eu não esperava essa inclinação e não tinha nunca feito isso. Mas não tive tempo de pensar muito, pois eles não paravam nem um pouco e logo eu estava fazendo a mesma coisa. Não achei difícil e rapidamente venci aquela parede com facilidade. Por ser escalador de rocha achei até mais fácil, pois no gelo temos os grampons e os piolets como apoio e na rocha só as mãos.

Ali já tinha ficado muito satisfeito e empolgado com a escalada, mas estava muito cansado e eles perceberam meu estado. Já estávamos escalando a geleira a quatro horas e  chegando no col o Hugo parou e começou a cavar um buraco na neve. Nesse momento vi que esse buraco era para mim, minha escalada acabaria a pouco metros do cume. Estava muito cansado e eles gentilmente deixaram ir com eles, acabei aceitando a situação sem questionar.

 Vista da Piramide Blanca  abaixo a  geleira e acima o Huallomen 5463m 

A Piramide Blanca nos seus trechos finais

 
Fiquei sentado ali, encima da minha mochila apreciando o visual e por varias vezes tirei as luvas para tirar fotos. Minha agua já tinha congelado e eu apenas tinha levado chocolates e barras de cereal para comer. Quando chegamos ali o tempo estava fechado e o Hugo até comentou que seria o motivo para me deixar ali, mas logo que eles saíram o céu de repente limpou e ficou azul, lindo!!
Fiquei esperando eles durante mais uma hora pelo menos e quando chegaram descemos imediatamente. Na descida fiquei pensando naquele trecho que tínhamos escalado e achei que iriamos rapelar. Chegando nela a Katherine se arrumou e Hugo deu uma segurança simples de corpo. A parede tinha uns 50 metros e ao invés de rapelar optaram por desescalar a parede. Eu estava no meio da corda e também já passei para parede e comecei a descer. A descida sempre é mais difícil e perigosa e para piorar a Katherine descia muito rápido e dessa forma varias vezes me puxou para baixo fazendo com que eu escorregasse alguns centímetro. Tive que gritar Stop para ela parar de fazer aquilo, mas acabou ocorrendo bem.
No trecho até a base ela parecia uma maquina, num ritmo como da subida, ela não parava em nenhum momento para descaçar. Até o Hugo estava impressionado com ela e ele me olhava e falava que ela era a Mulher Maravilha e dávamos risadas disso. Quando chegamos na base e nos desencordamos, falei para eles que queria ir com calma para o acampamento e que encontraria eles lá.

 Pequeno Alpamayo visto da Piramide Blanca


 Katherine (australiana) e Hugo Ayaviri (guia boliviano)


Eu esperando a volta de meus companheiros


Esse trecho até o acampamento é de uma hora, mas nem sei quanto tempo levei. Na minha ânsia de acompanhar eles no mesmo ritmo acabei me esforçando de mais e aqueles trechos finais foram uma tortura.
Chegando perto do acampamento as primeiras barracas eram dos Brasileiros liderados pelo David Marski. De longe vi que tinham umas 3 pessoas ali e eles também me viram e um deles começou a falar "é brasileiro, é brasileiro" esse era o David. Ele foi me recepcionar tirou minha mochila e me levou para a barraca refeitório deles. Eu estava preocupado com o Rodrigo mas o David falou que eles estavam cuidando dele e já tinham feito algumas visitas para ele e estava tudo bem.
Estava muito exausto, nunca tinha ficado daquela forma e aquela visita a eles foi ótimo. Tomei sopa quentinha com chá e me senti incrivelmente recuperado e animado, foi muito bom parar ali.
Bom, depois disso passei alguns sustos com o Rodrigo com esta descrito no meu post anterior sobre Condoriri. Também tive congelamento leve de alguns dedos da mão e isso prejudicou minha viagem, pois eu iria escalar o Huyana Potosi com seus 6080m. Essa montanha ficou para a próxima viagem!!!

 
Montanhas de Condoriri

Algumas dicas para você que quer ir para lá é entrar no site do David Marski, pois atraves dele que peguei as informações necessarias para minha viagem www.marski.org .

Guia de motanha:
Javier Carvalho (já escalou o everest) jcarvallo_contreras@hotmail.com  fone: 591-2-5281054
Hugo Ayaviri   (UIAGM ) - hugoayariri21@hotmail.com

Hotel Economico:
Hotel Torino - www.hoteltorino.com.bo - fone: 591-2-2406003

Loja de Equipos:
Tatoo - www.bo.tatoo.ws 

Aluguel de Equipos: