quarta-feira, julho 20

Condoriri - Acampamento Base

Roberto ou simplesmente Natural


Sou montanhista já fazem exatos 20 anos e este ano quis comemorar com uma escalada em altitude, alias minha intenção era chegar nos meus primeiros 6000m.


Alta montanha é muito diferente do que estamos acostumados em nossas montanhas. Fatores como altitude, pressão atmosférica, frio, neve, falta de oxigénio e as consequências disso em nosso corpo são determinantes para o seu sucesso.

Bom, como bom leitor de do Altamontanha e blogs de montanhistas já bem experientes como o Pedro Hauck, Hilton Benke e David Marski me ajudaram em minha decisão em ir para a Bolívia.

A Bolívia além de ser atrativo pelo grande numero de montanhas de fácil acesso para escalar, também oferece bons preços para nos Brasileiros, alias 1,oo real hoje compram 4,00 bolivianos.

As agências oferecem opções variadas para todos os tipos de mochileiros e turistas convêncionais, e guias de montanha com preços muito mais baixos de qualquer país vizinho.

 

Rua Sagarnaga, artesanato e agências de turismo



Segui a cartilha a risca todos os toques que me deram tanto em onde se hospedar, comprar equipos, alugar equipos, como se aclimatar e até o que levar na mochila.

Devo muito ao David Marski, não só pelas dicas no seu blog como seu livro que foi meu companheiro de viagem e também pela grande ajuda que tive dele na montanha. É... por conhecidência ele estava lá também com uma expedição grande dando cursos.

Caminhando no cruzamento da Calle Sagarnaga e Calle Ilhampu


Faço muitas das minhas viagens sozinho, mas nessa tive a companhia de meu amigo e cunhado Rodrigo Domingues, ele já havia feitas algumas caminhadas e até escaladas em rocha, mas não é um montanhista muito aciduo.

Ficamos dois dias em La Paz e aproveitamos para comprar equipos, presentes e fazer os preparativos para a escalada. Nossa intenção era ir Condoriri escalar o Cerro Áustria, Cerro Tarijia e quem sabe o Pequeno Alpamayo e depois bem aclimatado ir para o Huyana Potosi (6088m).


Na agência me ofereceram o transporte até Condoriri, mas não o convêncional indo até Tuni, mas sim um pouco mais acima fazendo com que nossa caminhada até o acampamento base diminuísse quase 2 horas das 3 horas convêncionais de Tuni. Achei ótimo pois não sofreríamos tanto para subir no primeiro dia.


A caminho de Condoriri


A mula custou bs 50,00 e logo estávamos subindo, o Rodrigo já na subida não estava bem, mesmo ficando 2 dias em La Paz a altitude já estava afetando.

O táxi já no começo da trilha


O lugar para acampar é lindo com um visual das principais montanhas e um lindo lago ao lado. Tem banheiros improvisados mas muito melhor do que sem eles. O nosso único problema é que o tempo não esta nada bom, já havia 2 dias que fazia muito frio e nevava direto, a base do condoriri normalmente é seco mas estava tudo coberto de neve.


Acampamento Base Condoriri (4700m)


Os relatos de quem estava escalando no local também não eram animadores, um grupo de Paulista que já estavam de saída escalaram o Tarijia com dificuldade pois sempre na volta as marcas já haviam sumido e tentaram o Áustria e desistiram antes do final por causa do tempo ruim e da neve.
















A barraca pela manhã



Nossos planos era ficar 6 dias, dando para escalar ou não voltaríamos. E ficou mais dois dias nevando muito e no ultimo dia fez um frio muito grande que chegou a congelar nossa agua dentro da barraca.


Acampamento Base depois de uma noite de muita neve

 
No terceiro dia amanheceu lindo com o céu azul e as montanhas todas nevadas, foi maravilhoso. Aproveitamos para escalar o Cerro Áustria que levamos 9 horas para subir e descer. Descansamos um dia e depois foi para o  Piramide Blanca, mas pretendo postar essas escaladas com mais detalhes adiante.

 
No acampamento conheci muita gente, por ser alta temporada todos os dias chegavam e iam pessoas a toda hora. Conheci o Javier Carvallo escalador Boliviano, muito conhecido na Bolívia, pois é o segundo montanhista a escalar o Everest, também é companheiro do Waldemar Nicleviz quando ele esta nos Andes e participou do projeto dele do Mundo Andino. Com muita calma e paciencioso ele dava toques para todo mundo, claro que um montanhista como ele estava com uma expedição grande e guiava um grupo de Suíços (não muitos simpáticos) resistentes e acho que acostumados com o frio, pois dois deles tiveram até coragem de correrem só de cuecas para tomar banho numa bica que havia lá.

 
Eu e Javier Carvallo o escalador mais experiente do local


Ficamos muito amigos de dois Argentinos Petro e Franco, todos os dias depois de escalar nos reuníamos para conversar, chegamos até fazer pipocas a noite num frio de quase -10graus e ficar falando sobre montanhas no Brasil e na Argentina. Depois em Laz Paz nos encontramos para comer pizza num restaurante, com certeza dessa amizade ainda surgirá no futuro alguma escalada por lá. Franco esta se formando para ser um guia de montanha e já trabalha na alta temporada no Aconcagua e Petro trabalha com informática num banco. Petro é um figura e disse ao voltar para Argentina que foi um golpe muito duro voltar a trabalhar, não adianta montanhista gosta é de montanha e natureza.

Franco (Arg.), Rodrigo e Petro (Arg.) nossos amigos


Mas muito bom foi o David Marski estar lá também, ele chegou depois de estarmos lá já a 3 dias e de já ter parado de nevar, o acampamento nem estava mais branquinho. David sempre foi muito atencioso e prestativo, mesmo nos não fazendo parte de sua expedição.


No refeitorio de David Marski (segundo da direita p/ esquerda)


Rodrigo meu companheiro desde que chegou no acampamento base reclamava de dor no estômago, mas não desistiu e chegou a escalar comigo o Cerro Áustria (5320m), aonde sofreu bastante para subir mas pela sua persistência e objectividade chegou no cume. Mas nos dias seguintes não passou bem e foi piorando aos poucos, o primeiro a examina-lo foi o Javier e não foi muito conclusivo mais falou para ele precisa tomar muita agua. Infelizmente esse conselho foi o que eu mais dei, mas ele persistia em tomar pouca agua.


Rodrigo Domingues (Curitibano residente em Campo Grande)



Ele foi piorando até que no quinto dia enquanto eu escalava, David já percebeu que ele não estava bem e foi algumas vezes na barraca ver ele. Sua saturação era baixa significando uma má aclimatação, mas seus sintomas estavam confusos, pois tinha dor nas costelas, estômago e no pulmão. Quando desci para o acampamento levei ele a uma escaladora Australiana que eu havia escalado no Cerro Ilusion, pois ela era médica. Ela fez algumas perguntas e também não soube dizer muito, mas mandou tomar Iboprofeno com Paracetamol e foi que ele fez. Nesse momento em diante levamos um susto ele começou a ter dores muito intensas e David veio logo com seus kit de socorros para nos ajudar, Rodrigo se contorcia na barraca com muita dor e não achávamos sem um posição mais confortável para ele. Chegamos a cogitar de dar o Dexa para ele tomar e até de descer para vilarejo a noite se ele não melhorasse, mas acabamos dando o Diamox com o Ibopofreno. Depois de umas horas ele estava melhor, foi um noite longa e preocupante, pois íamos embora no dia seguinte bem cedo.



Pela manhã desmontamos o acampamento e fomos embora, Rodrigo estava ainda com dores, mas tomando bastante medicamento aguentou até La Paz. No caminho percebi que tinha tido no dia anterior congelamento leve das extremidades do meus dedos e eles haviam infeccionado e estavam inchados e doloridos, ali percebi que minha viagem havia acabado, pois escalar outra montanha poderia aceleram o congelamento dos meus dedos. O sonho de chegar aos meus 6000m ficou para outra viagem.

 
Na descida com as mulas


Rodrigo sofreu um pouco até chegar no Brasil e o diagnóstico foi uma lesão muscular entre as costelas e causou uma inflamação que acabava forçando o pulmão e causando muita dor, provavelmente foi um mal jeito com a mochila. Eu levei 10 dias para curar minha inflamação dos meu dedos, como sou designer me atrapalhou muito no meu trabalho.





Na volta para o Brasil vim com dois Paulista amigos do David que estavam na seu acampamento, Carlos E. G. Monteiro e Renata R. Oliveira que foram uma ótima companhia e são também apaixonados por montanha como eu. Também conhecemos nos últimos dias dois paulistas Luiz e Luiz e um deles tinha pressão alta e acabou voltando no mesmo dia para La Paz no nosso transporte.

Eu, Renata e Carlos